23 de jan. de 2007

Parte 2


Lá em cima, olhando para trás, o floco de neve observava uma grande mancha branca, a mesma que estaria, em minutos, sedimentada nos telhados das casas que ele via abaixo.

A neve dá uma sensação de tranquilidade, de paz, de que tudo pode ficar homogêneo. Talvez por suavizar os contrastes de cor, de nível, de textura...

Luisa abriu a segunda porta da frente e pode sentir o vento frio em seu rosto. Em pouco tempo, estaria sentindo uma formigação no queixo, como se pequenas agulhas fossem espetando-lhe a pele. No entanto, a sensação de ver a neve caindo superava os empecilhos causados por esta. Uma chuva de flocos finos caindo em câmera lenta.

Alguns dos flocos que havia visto antes já haviam se derretido ou voado pra bem longe. Qual o sentido de eu ser formado e desaparecer em tão pouco tempo? O que poderia fazer de útil enquanto existisse? Posso ser visto como algo importante, incomum no tempo, mas há tantos de mim, como irão me ver unicamente?

Quanto mais neve caia, mais Luisa ficava admirada. De perto, seus olhos castanhos, claros como mel recém-tirado da colmeia, eram pintados por pequeninas manchas brancas que passavam pela íris, de cima a baixo. Ela saiu da coberta e foi para o lado de sua bicicleta rosa, ficou olhando pra cima... Que gosto tem a neve? Institivamente, abriu a boca e colocou a língua pra fora, provando a água gelada que se formava nela.

Ele não queria chegar ao chão e ser mais um frente aos morros brancos que se acumulavam, muito menos ser pisoteado por botas de borracha que riscavam o chão com suas saliências. Queria um destino melhor, mas estava chegando perto de esvair-se do mundo. Não possuía impulso nem vontade próprios. O vento lhe arrastava para os lados e para baixo. Nem ao menos uni-me a nenhum outro floco para trocar uma idéia. Chegaria ao chão como mais um...

Ao ver um morro na frente de casa, Luisa correu e, como se quisesse abarcá-lo com suas pequenas mãos protegidas por luvas, pulou de frente, caindo suavemente e sentindo o peso do corpo projetar seu contorno na neve. Saiu correndo e pulando mais vezes, em cima de outros morrinhos, ou então somente pulando com as mãos pra cima, como que querendo guardar os flocos para si. O sorriso, deixando à mostra seus dentinhos superiores, refletia o espírito daquela criança brincando em meio ao que homem não pode captar, só sentir: a felicidade.

Deixou-se desfalecer. Quase já não sentia emoção em ver mais de perto as árvores e as cores que eram tão pequenas quando nasceu.

E
ia
cain

do

pra esquerda...
pra direita...

3 comentários:

Ju disse...

Esse floquinho de neve aí sou eu... =P
S. +@

Kah disse...

e continua....
^^


beijo, vitu

Sra Ivana disse...

Vala que massa o enredo, a alternância dó foco nos parágrafros e o feito visual da queda ! Massa demais:-D