10 de nov. de 2006

Sonhos

Teve um dia que eu sonhei que tava numa praia, era de tardezinha pra de noite.
Tinha uma casinha feita de madeira com telhado do mesmo material ou de telha avermelhada.
Na areia havia uns matos verdes ao redor da casa.
Ela ficava no alto de um morro um metro e meio acima da água, e não muito longe da beira do mar.
Anoitecia e a areia ganhava um tom de azul, iluminada pela parcialidade que a Lua aparecia no céu, entre nuvens azuladas num tom pra branco também.
Acho que tinha uma lamparina dentro da casa, que só tinha um cômodo.
Tinha uma janela com uma cortina de pano transparente branco.
Tinha uma cama com colcha branca.
Ah, lembrei.. o telhado, se tinha, era transparente também de alguma forma, porque eu deitava na cama e conseguia ver as estrelas no céu.
Ao pisar na areia, eu a sentia gelada, mas confortável ao mesmo tempo em que ela se moldava à força que meus pés faziam nela.
Por que não chuva também?
E agora eu mudo de ambiente.
Não tô mais na praia, tô na serra.
Quando olho pra frente, vejo uma paisagem escura e com uma serração impedindo-me de ver muito além.
Eu tô em cima de um barranco, perto de uma Igreja.
Na verdade isso não é sonho, eu lembro de ter estado lá.
Lembro da mesma serração invadindo a casa do meio do mato em que eu fiquei durante a Semana Santa.
Frio na serra sempre me lembrou e vai me lembrar de comer fondue.
Sempre vai me lembrar de tomar vinho, tirando gosto com queijos.
Já me perdi nos sonhos.
Eu já consegui compor uma poesia à beira da praia, enquanto conversava com meu primo.
Queria ter escrito num papel pra poder lembrar, acho que ficou boa.
Eu já fiz uma viagem pro interior.
Lá em cima do morro tinha um restaurante.
Ia com meus pais, meus avós.
O Vovô dirigindo o jipe bege dele.
Eu e meus primos sentados na parte de trás naqueles assentos de almofadas recobertas com plástico com detalhes vermelhos - ou verdes.
A pedida era sempre guaraná Wolga.
A gente pedia peixe assado pra comer.
Enquanto isso, eu ficava descalço e atravessava o tablado branco sob as pedras, pisava na terra e seguia um caminho que dava na bica.
Lá em cima tinha outra parte do restaurante, mas eu nunca fui.
No começo eu não subia nas pedras pra chegar na bica, mas depois me aventurei.
Gostava quando ia com meu pai e o Vovô.
O Vovô com aquele short de banho azul escuro que tantas vezes eu vi usar junto da Bá.
Cada pedra era uma forma diferente de pisar.
As pedras eram escuras, cinzas, o lodo, verde.
Quando a gente chegava na base da bica, podia sentir os respingos de água, aquela névoa que se espalha depois que a água bate nas pedras.
Olhava pro alto, tentava ir lá pra cima.
Imaginava como era a bica de cima.
A água era extremamente gelada.
Meu pai logo me molhava e ficávamos jogando água um no outro.
A areia era diferente.
Eu trouxe uma vez pra Fortaleza num saco plástico.
Parecia um cascalho bem fino.
Eu tinha medo de ficar bem embaixo da água da bica.
Tinha receio de cair no chão quando ela me atingisse.
Mas era bom que só depois que eu não sentia mais a água gelada.
A bica foi minguando.
Não sei como tá hoje.
Espero que esteja com alguma água.
Vou dormir.
Espero pela chuva de amanhã e, com sorte, pelos flocos de neve que cairão por cima das folhas que estão no chão.

2 comentários:

Ju disse...

Menino, mas virou um poeta mesmo, esse meu namorado!
E pense que ficou lindo!
Tem coisa mais bonita e reconfortante do que a gente sentir essas sensações, lembrar delas?
Até me fez lembrar da sensação de sentir a névoa da bica, de entrar na água gelada e da delícia que é quando seu corpo de acostuma com a temperatura... E me lembrei de ter escalado as pedras com meu pai também, e de ele jogar água em mim...
Que sensação boa!!! =D

Amo - te!!! ;D +@

Luís CS disse...

Verso em prosa... Parabéns! Acho que vc conseguiu reunir a atmosfera de alguns dos melhores locais do Ceará (por mais que vc não esteja necessariamente falando deles).

Teu texto me deu uma nostalgia, uma lembrança perdida da minha infância: viagens, pessoas...